Low Key - Black Alien: Circo Voador

No Princípio Era o Verbo

Black Alien é um nome que dispensa introduções para quem é fã de rap nacional. E foi com a confiança de duas noites com ingressos esgotados (10 e 11 de março) que ele dominou o palco do Circo Voador no fim de semana. Em 2022, tivemos a honra de registrar outros dois de seus shows memoráveis: o primeiro em janeiro, quando Alien dividiu a noite com Jonathan Ferr, e o outro em celebração aos seus 50 anos, onde subiu ao palco com B Negão e Marcelo D2 para uma celebração histórica.

Hoje, consagrado como um dos maiores da cena para muito além do público carioca, Gustavo sustenta suas rimas como Black Alien há trinta anos, em uma trajetória muitas vezes traduzida em caminhos não-convencionais. Depois das colaborações com Speed Freaks e Sabotage, e de integrar o Planet Hemp durante a turnê de ‘Usuário’ (1995), ele lançou o primeiro disco ‘Babylon By Gus Vol I: O Ano do Macaco’ (2004), gravado em um mês, hoje, considerado um clássico contemporâneo. Nele, Black Alien rima sobre as transformações e dilemas do cotidiano de jovens como ele e que ainda permanecem atuais, ecoando uma relação com o presente.

Foto: Carolina Lopes

Através da escrita e do canto, de guerra ou de alento

Eu sigo em frente e atravesso o tempo
Genuíno no meu hino, desde menino
Ninguém fica ao relento no meu testamento

Onze anos depois, veio a continuação ‘Babylon By Gus Vol II: No Princípio Era o Verbo’, onde seguiu explorando ainda mais sua lírica provocativa e consolidou sua identidade musical. Em versos complexos, mistura português e inglês, puxando refrãos que são construídos com a malícia de empolgar o público a ouvir de novo.

Foto: Carolina Lopes

Mas foi ‘Abaixo de Zero: Hello Hell’, disco mais recente lançado em 2019, o mais certeiro em colocar o artista no corredor dos grandes rappers nacionais, referenciando sua trajetória. Produzido pelo Papatinho, o álbum traz signos do cinema e rock para elaborar confissões sobre os dilemas do vício e sua recuperação, a possibilidade de contar essa história e de seguir para uma nova fase. Nunca um rapper de Niterói havia feito tanto sucesso no mainstream: naquele mesmo ano, ganhou Melhor Álbum no prêmio APCA e Álbum do Ano no prêmio Multishow, e acumulou dezenas de milhões de plays nas plataformas de áudio.

Se um dia a coragem foi líquida, agora ela é sólida, irmão

Tenho não só que lidar com a vida
Lido com ela sem pó e sem dó, então

Foto: Renan Prado

A primeira noite de shows do fim de semana do Black Alien no Circo Voador foi marcada por uma atmosfera de euforia, saudades de quem aguardava pela apresentação desde o adiamento das que aconteceriam em dezembro de 2022, mas que por motivos de saúde foram adiadas, e por uma enorme fila de entrada que ainda se mantinha minutos antes da previsão de início do show, que precisou ser adiado por meia hora para que ninguém perdesse a entrada no palco de um dos maiores ícones do rap brasileiro. No dia seguinte, mesmo com chuva, um Circo Voador lotado esperava ser embalado por seus hits.

Um Gustavo sem voz, visivelmente impactado pela entrega no show da noite anterior, se apresentou suspenso pela força de um público que mostrou o máximo respeito e reconhecimento pela obra, cantando junto com empolgação em todas as músicas, do início ao fim.

A impressão era de estar ouvindo o público cantar sempre um ‘maior sucesso’ de seu repertório, tanto nas antigas ‘Caminhos do Destino’ e ‘Segunda Vinda’, como em ‘Carta Pra Amy’ e ‘Jamais Serão’, clássicos mais recentes.

Foto: Carolina Lopes

Black Alien segue agenda de shows passando pelo Purpurata Festival de Marçooripa, em Florianópolis, Breve Festival em Belo Horizonte (MG), Opera de Arame, Curitiba (PR), e FENAC- Novo Hamburgo (RS).

Consulte nossa galeria para rever outras coberturas de shows do Black Alien.

Resenha por: Luana Vieira e Suzany Alves

Foto: Carolina Lopes